SER FELIZ – A PUREZA DO CORAÇÃO
Segundo o conceito bíblico, o coração é o centro do ser e da personalidade, incluindo a mente, a vontade, as emoções e todas as atividades, mas também de todas as dificuldades humanas, como Jesus explica em Mateus 15.19-20 (NTLH): “Porque é do coração que vêm os maus pensamentos, os crimes de morte, os adultérios, as imoralidades sexuais, os roubos, as mentiras e as calúnias. São essas coisas que fazem com que alguém fique impuro…”.
E quando nosso Senhor, em Mateus 5.8 (NTLH), declarou que “Felizes as pessoas que têm o coração puro, pois elas verão a Deus”, estava nos ensinando que devemos estar permanentemente atentos sobre o que realmente determina nosso agir, o que nos move em cada circunstância da vida, submetendo-nos voluntariamente a um autoexame contínuo, e lembrando-nos do que Jeremias 17.9 (NVI) nos alerta: “O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa e sua doença é incurável”.
A palavra do idioma grego para significar puro é kázaros, e comunica a ideia de algo sem mistura, sem adulteração, incontaminado, e Jesus ensina-nos que seremos felizes quando nossas motivações forem íntegras e desprovidas de qualquer intenção que não seja elevada, benigna e produtiva para o Reino, pois só assim veremos a Deus. Sinteticamente, pois, ter o coração puro significa vivermos para a glória de Deus em todos os aspectos de nossa vida como supremo e permanente objetivo, almejando acima de tudo conhecê-Lo, amá-Lo e servi-Lo fielmente.
No entanto, pecadores como somos, por nós mesmos jamais poderemos nos autopurificar totalmente e dificilmente nossas ações – até mesmo as melhores e mais bem intencionadas – deixarão de ter a contaminação de pensamentos e motivações impuras e egoístas, por isso é indispensável examinarmo-nos a nós mesmos, a cada passo perguntando-nos: estamos fazendo esta oferta para a Obra de Deus por gratidão a Ele, amor aos necessitados e obediência à Palavra, com total desinteresse pessoal, sem visar a sensação íntima de importância e de aprovação do nosso ato, além de suscitar a admiração das pessoas? Este sacrifício que estamos fazendo por alguém é mais que um belo gesto exibicionista que busca aplausos, para que vejam em nós uma atitude heroica, ou o praticamos por legítimo amor ao próximo? Temos uma autêntica vontade de servir, ou buscamos antes de mais nada o prêmio pelo serviço prestado? Vamos todo domingo ao culto com o desejo sincero de louvar e de adorar a Deus, ou o fazemos automática e burocraticamente porque nossa família, amigos e conhecidos o fazem? Oramos e estudamos a Palavra porque sentimos uma necessidade profunda de andar com Deus e de melhor conhecê-Lo, ou fazemos isso porque nos proporciona um sentimento de superioridade com relação a outras pessoas que julgamos que não são tão dedicadas, tão “espiritualizadas” como nós, e então podermos demonstrar sapiência? Trabalhamos na igreja por amor a Cristo ou para adquirirmos e mantermos uma imagem positiva, e assim termos poder e destaque entre os irmãos?
O famoso escritor e pregador cristão inglês John Bunyan era muito cuidadoso com a admiração pelo próprio mérito, e dá-nos um exemplo marcante de busca de pureza cristã quando certa vez, após ter proferido um sermão, ao ser abordado por um fiel que o parabenizou, respondeu entre sério e bem-humorado: “Obrigado. O diabo já tinha me elogiado enquanto descia do púlpito”!
Fazer, no entanto, uma autoavaliação isenta, verdadeira e imparcial de nós mesmos é bastante difícil, porque é então que por certo descobriremos não haver muitas coisas que planejamos e realizamos que estejam embasadas em intenções estritamente virtuosas, mas Jesus deixou claro que somente sob estas condições de rigorosa integridade, limpidez e generosidade, sem estarmos afetados por maldade ou malícia, estaremos aptos a ver a Deus. O que precisamos compreender é que na vida só enxergamos aquilo que somos capazes de ver, só divisamos o que para isto estamos preparados e sensibilizados com o coração e o conhecimento, mais do que com os olhos, como a pessoa que, por ter preparo e formação, ao examinar duas obras de arte aparentemente idênticas, consegue discernir a falsa da verdadeira.
Tiago 4.8 (NVI) exorta com sabedoria: “Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês! Pecadores, limpem as mãos, e vocês, que têm a mente dividida, purifiquem o coração” porque, se andamos com Deus, pela Sua graça e pelo agir do Seu Santo Espírito em nós, conseguimos manter nosso coração limpo, puro, despoluído, mas se pela atuação do inimigo – com o nosso consentimento consciente ou não – o entulhamos de pecado e lixo, esta condição determinará nossa futura incapacidade de ver a Deus.
Nunca nos esqueçamos de que somente Deus pode realizar de forma perfeita e completa a limpeza de que necessitamos em nossos corações, e Ele prometeu que a realizaria, operando em nós, “… pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele”, ensina Paulo em Filipenses 2.13 (NVI). Estamos nas mãos do Senhor, e o processo de nosso aperfeiçoamento está sendo realizado, então podemos ter a certeza de que um dia não mais teremos falhas de qualquer espécie, seremos inculpáveis, sem manchas e isentos de contaminação, e esta condição é sine qua non para um dia recebermos permissão para adentrar à Cidade Santa por suas portas.
A visão de Deus certamente não será facultada aos “espertos”, calculistas, enganadores, ardilosos, nem aos faltos de fé que colocam um pé em cada canoa – um no mundo e o outro no cristianismo – e acabam caindo no rio do afastamento de Deus, como o irmão de Jesus mostrou em Tiago 1.6-8 (NVI) com relação àquele cuja lealdade é dividida, vivendo cheio de dúvidas, incertezas e atitudes oportunistas: “… aquele que duvida é semelhante à onda do mar, levada e agitada pelo vento. Não pense tal homem que receberá coisa alguma do Senhor; é alguém que tem mente dividida e é instável em tudo o que faz”.
Por isso, verão a Deus somente aqueles que são cristãos integral e absolutamente sinceros, honestos e verdadeiros, que desejam um dia vê-Lo de todo o coração e não permitem que nada nem ninguém se interponha no caminho que os leva a Cristo.
O cristão puro de coração jamais consegue viver uma vida dupla, cheia de segredos inconfessáveis que procura guardar a sete chaves, não tem intenções ocultas cuidadosamente camufladas porque é transparente em suas motivações, e se seu coração pudesse ser perscrutado, ali seriam encontrados os mesmos pensamentos, ideias, conceitos, planos e propósitos expressos por sua boca porque, tal como Jesus disse em Mateus 12.34 (NVI), “… a boca fala do que está cheio o coração”.
E o Salvador execra toda a falsidade daquele que vacila entre a verdade e a mentira, que diz seguir a Cristo mas só busca vantagens pessoais através dEle, que afirma amar a Deus mas odeia o irmão. A este Jesus condena em Mateus 15.8 (NVI) ao dizer que “Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim”, da mesma forma como Elias reprovou o povo de Israel em 1 Reis 18.21 (NVI), dizendo: “Até quando vocês vão oscilar entre duas opiniões? Se o Senhor é Deus, sigam-no; mas, se Baal é Deus, sigam-no”.
Na autêntica vida cristã não existe meio-tom: ou se adora a Deus com inteireza e pureza de coração, sem esperar nada em troca, ou não se é um verdadeiro adorador em espírito e em verdade, que é a característica daqueles que o Senhor procura.
Possivelmente a maior infelicidade de quem se autodenomina cristão é ter um coração bipartido, como diz o ditado, “nem tanto ao céu, nem tanto à terra”, por isso é morno, nem frio nem quente, indefinido, oportunista, fica no meio do caminho entre Deus e o mundo para não se comprometer, mas se julga fiel, justo e cumpridor de suas “obrigações religiosas”, e por isso Jesus em Apocalipse 3.16 (NVI) o adverte: “… estou a ponto de vomitá-lo da minha boca”. Para estes impuros de coração, resta apenas um horrendo destino: jamais verão a Deus, e viverão em trevas perpétuas, e para eles Jesus admoesta severamente que “… haverá choro e ranger de dentes”.
É preciso que estejamos conscientes de que a nossa transformação, – pelo bendito agir do Espírito Santo em nossos corações, – resgatando-nos da situação de imundícia para a de pureza é na verdade um processo muitas vezes doloroso, lento, perseverante e continuado de supressão do espaço ocupado em nosso coração pelo ego, que gradativamente deve diminuir, enquanto Deus vai ocupando todo o nosso ser, analogamente ao que João Batista disse sobre ele próprio e Jesus em João 3.30 (NVI): “É necessário que ele cresça e que eu diminua”.
A pureza de coração é característica inalienável do cristão que entrega-se a Deus sem reservas, que O ama de todo o coração e de todo o entendimento e de toda a força, e ama ao próximo como a si mesmo, seguindo Seus mandamentos e ordenanças fielmente, sem titubear, porque deseja fruir da verdadeira felicidade, orando sem cessar como Davi o fez no Salmo 51.10 (ARA): “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável”.
E a recompensa para aqueles que buscarem incansavelmente ter um coração puro por amor a Deus, é gloriosa e inefável, como Paulo anuncia em 1 Coríntios 2.9 (NVI): “Olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que o amam”.
Continua a seguir, com o próximo artigo: Ser Feliz – Promovendo a Paz
14 de novembro de 2020
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