TEMPO
Deus nos concede um determinado tempo de vida aqui na terra, sejam muitos ou poucos dias, segundo o Seu amoroso plano existencial para cada um. E entrega em nossas mãos a responsabilidade de fazer bom uso deste período que, por Sua imensurável graça, sempre será suficiente e necessário, acima de tudo, para que possamos conhecê-Lo em espírito e em verdade, e procedamos com o nosso semelhante usando de sabedoria, amor, bondade e misericórdia, e sempre prontos a ajudar, amparar, consolar e cuidar.
Ao mesmo tempo, os dias que nos cabem devem ser usufruídos em sua plenitude como oportunidades de aprendizado, de aquisição de experiências que contribuam para a formação do nosso caráter e assim nos tornem mais úteis e preparados para o serviço do Senhor e o auxílio ao próximo.
O tempo é o veículo por excelência da mudança contínua a que todos estamos submetidos: tudo no universo criado por Deus é cíclico, por isso em nossa vida o princípio dinâmico básico é o da transformação permanente, e sobre isto o filósofo pré-socrático, Heráclito de Éfeso certa vez ponderou com sabedoria: “Ninguém entra em um mesmo rio uma segunda vez, pois quando isso acontece já não se é o mesmo, assim como as águas já serão outras”.
Em um processo repetitivo, as frutas amadurecem, os alimentos são digeridos, a água evapora e forma as nuvens, o ferro enferruja, o papel queima, o gelo derrete, o céu, a luz do sol e a vegetação modificam-se, os dias apresentam temperaturas, luminosidade e duração crescentes e decrescentes, e assim a vida na terra segue o seu curso de antemão perfeitamente planejado pelo Senhor.
Mas, por outro lado, os estudiosos também afirmam com relação ao ser humano que a estatura média tem aumentado, a temperatura corporal diminuído, a expectativa de vida tem se alongado, e podemos verificar em nós mesmos que, com o passar dos anos a nossa aparência exterior se altera, enquanto que a nossa capacidade física se reduz paulatinamente, ficamos mais suscetíveis a enfermidades porém, em compensação, temos oportunidade de adquirir mais experiência e maturidade.
Todo o nosso ser está igualmente sendo modificado permanentemente: as células se renovam da cabeça aos pés, os cabelos e unhas crescem, acordamos a cada dia com pensamentos, disposição e humor diferentes, nossos dias nunca são exatamente iguais e a cada um enfrentamos novas circunstâncias com implicações imprevisíveis, todo ano de nossa vida guarda suas muitas peripécias, e assim nossa peregrinação no planeta é uma constante sucessão de desafios, de lutas com vitórias e derrotas, enfim, ups and downs sucessivos que nos propiciam mais conhecimento e nos exercitam para os novos enfrentamentos que virão e para ajudar a outros que passem por circunstâncias semelhantes.
Deus é o Senhor do tempo, para Ele não existe passado, presente ou futuro, por isso age em nós no Seu tempo, o kairós, que na teologia passou a ser usado para descrever a forma qualitativa do tempo, o tempo supremo e imensurável que descreve a eternidade, o tempo da oportunidade que se manifesta sempre em um presente eterno instante após instante e desta forma todos os acontecimentos estão diante de Deus ao mesmo tempo, tão reais como se estivessem ocorrendo naquele momento.
Enquanto isso, nós vivemos nossa jornada terreal agrilhoados ao nosso tempo, o tempo humano, o chronos, medido em anos, meses, dias, horas, minutos. E estejamos cientes de que cometeremos sério equívoco se confundimos o kairós que só Deus conhece e que rege o universo, com o chronos mostrado por nosso relógio e que apenas rege o nosso dia a dia!
Portanto, nada é estático em nossa vida na terra, nenhuma conjuntura é totalmente inerte, nenhuma situação é imutável e o tempo flui levando-nos pela vida afora tal como barcos que navegam por águas por vezes calmas e tranquilas, mas que repentinamente encontram mares tempestuosos e ameaçadores, sem que saibamos o destino que nos está reservado… Só o nosso Deus Todo-Poderoso, Onisciente, Imutável, Soberano, sabe!
E é na sábia e concreta constatação do nosso pífio poder, se comparado com o poder infinito de Deus, que reside a fundamental importância de nos colocarmos sob a Sua guarda e fazermos nossas as palavras de Davi no Salmo 18.2: “O SENHOR é a minha rocha, a minha cidadela, o meu libertador; o meu Deus, o meu rochedo em que me refugio; o meu escudo, a força da minha salvação, o meu baluarte”.
O tempo provoca transformações em nós que por vezes são profundas, no corpo, na alma e no espírito, e isto acontece por um abençoado propósito de Deus, desde que a nossa confiança nEle seja plena e irrestrita, e atendamos à exortação de Davi no Salmo 37.5: “Entrega o teu caminho ao SENHOR, confia nele, e o mais ele fará”; e então seremos abençoados pelas palavras de Isaías 40.31: “… os que esperam no SENHOR renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam”.
Sem a dinâmica existencial da mudança incessante, ficaríamos desprovidos de crescimento pessoal, familiar e comunitário, pois é no enfrentamento dos desafios sempre presentes na vida que evoluímos, uma vez que, – tal como no ato de caminhar em que da condição de equilíbrio do corpo estático passamos ao desequilíbrio do movimento que produz o avanço, – haja o desejo deliberado, a decisão, o propósito de alcançar determinado objetivo à nossa frente.
E a meta mais importante que existe em nossa jornada aqui na terra é nos assemelharmos a Cristo ao buscar a santificação, atendendo à exortação do autor de Hebreus 12.14: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor…”.
Só temos uma certeza, e esta nos basta, na mesma medida que a graça de Deus não tem limite e nos é plenamente suficiente: o Senhor tem o controle total e absoluto de tudo, inclusive da nossa vida, do nosso tempo de peregrinação e dos desafios que nos serão propostos. E Ele nos ama com um amor que foge a toda compreensão, não obstante a infinita desigualdade entre nós e Ele, expressa por meio do profeta Isaías 55.8-9: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o SENHOR, porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos”.
Para fazer jus a tal amor infinito e inconcebível, como crentes devemos viver de modo sábio, procurando remir o exíguo tempo de que dispomos aqui na terra, ou seja, procurando aproveitar as oportunidades que o Senhor nos oferece ao abrir a cada dia diante de nós novas portas com inúmeras possibilidades de transformação e de serviço a Ele.
Senhor bendito, ajuda-nos a utilizar o tempo de que dispomos em nossa jornada vivendo uma vida marcada por santidade, por atos de misericórdia e de amor ao próximo, atentando à urgência com que Paulo nos alerta em Efésios 5.15-16 ao dizer: “Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus”. Sim, Pai, é grande a malignidade dos tempos que vivemos e sabemos que o Teu Santo Espírito não agirá para sempre em nós, por isso capacita-nos a aproveitar ao máximo as oportunidades para Te adorar, para Te servir e testemunhar de Ti, em nome e pelo amor de Jesus. Amém.
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