Viver em Nossos Dias (2)
Um cidadão do Império Romano – especialmente se fosse um pagão culto – ficaria impressionado pela maneira como os cristãos desprezavam o mundo, a morte e os deuses pagãos, e pelo amor que dedicavam uns aos outros. Que Deus era aquele em quem criam, que tipo de culto lhe prestavam, de onde vinha aquela gente nova e como surgira? Foi para responder a estas e outras questões de igual importância que foi escrita uma jóia da literatura cristã primitiva, o texto que é conhecido como a Epístola de Mathetes a Diogneto, simultaneamente uma crítica ao paganismo e ao judaísmo, e uma defesa do cristianismo. “Mathetes” não é um nome próprio e significa apenas “um discípulo”, e o autor é um cristão que não usa o nome “Jesus” e nem a palavra “Cristo”, preferindo o uso do termo “O Verbo”. Um “Diognetus” foi um tutor do imperador romano Marco Aurélio, que o admirava por não ser supersticioso, e pelos sólidos conselhos educacionais que dava, mas é improvável que seja ele o destinatário desta apologia. Alguns estudiosos acham mais provável que o objeto da mensagem seja “o excelentíssimo Diognetus”, Cláudio Diógenes, que era procurador de Alexandria na virada do século II para o III d.C.
No entanto, seja a quem quer que tenha sido dirigida a carta, é notável observar como a descrição que é feita dos cristãos da época – modelos para nós, após 2.000 anos de “progresso” da humanidade – em parte espelha a realidade que ainda vige e em parte aquela que deveria efetivamente viger até os dias de hoje, como revela este trecho da missiva: “Os cristãos, de fato, não se distinguem dos outros homens, nem por sua terra, nem por língua ou costumes. Com efeito, não moram em cidades próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum modo especial de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, graças ao talento e especulação de homens curiosos, nem professam, como outros, algum ensinamento humano. Pelo contrário, vivendo em cidades gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e ao resto, testemunham um modo de vida social admirável e, sem dúvida, paradoxal. Vivem na sua pátria, mas como forasteiros; participam de tudo como cristãos e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria estrangeira é pátria deles, e cada pátria é estrangeira. Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam os recém-nascidos. Põem a mesa em comum, mas não o leito; estão na carne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm sua cidadania no céu; obedecem às leis estabelecidas, mas com sua vida ultrapassam as leis; amam a todos e são perseguidos por todos; são desconhecidos e, apesar disso, condenados; são mortos e, desse modo, lhes é dada a vida; são pobres, e enriquecem a muitos; carecem de tudo, e têm abundância de tudo; são desprezados e, no desprezo, tornam-se glorificados; são amaldiçoados e, depois, proclamados justos; são injuriados, e bendizem; são maltratados, e honram; fazem o bem, e são punidos como malfeitores; são condenados, e se alegram como se recebessem a vida.”
E de fato era assim que os primitivos cristãos se sentiam e viviam, pois tinham a noção perfeita de que não eram cidadãos deste mundo, que sua pátria não era uma pátria terrena, calcada em valores materiais. Eles aspiravam à pátria celeste, aos bens imateriais, às riquezas espirituais, aos tesouros celestes. Viviam a verdadeira religião, aquela que fora ensinada pelo próprio Cristo, e que o apóstolo em Tiago 1.27 tão bem transmitiu dizendo: “A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.”
Se nos dias de hoje não é fácil manter os valores cristãos, nos primeiros tempos da igreja era incomparavelmente mais difícil, assemelhando-se à forma como vivem atualmente os cristãos nos países muçulmanos. Mas nos países ocidentais somos muito menos perseguidos, muito menos martirizados, muito menos exigidos. Vivemos em países onde existe liberdade religiosa e de expressão, o que talvez seja uma das causas de deixarmos de dar o testemunho que deveríamos dar da nossa fé; talvez seja por isso que somos complacentes quando se trata de defender os valores éticos e morais de nossas famílias; e talvez seja esta a razão principal de nos omitirmos na defesa da vida, na luta contra o aborto, na defesa dos fracos e dos oprimidos, dos excluídos, dos órfãos e das viúvas, enfim dos nossos irmãos mais necessitados de amor, de fé, de pão e de verdade.
Não é fácil ser cristão nos dias que correm quando o santo nome de Deus é usado em vão de forma tão corriqueira, e Ele é menosprezado, desrespeitado, desprezado, vilipendiado, escarnecido; não é fácil quando a onipresente TV invade nossos lares com imagens e histórias de violência, sensualidade, corrupção e imoralidade; não é fácil quando prolifera na internet a pornografia e a pedofilia, colocando-as no colo de nossas crianças; não é fácil quando os videogames preparam crianças e jovens para uma cultura de violência e de desrespeito ao seu semelhante; não é fácil quando a droga está nas portas das escolas, nas festas, nos clubes, nas casas, nas ruas das cidades e em praticamente todos os lugares; não é fácil quando a garota é pressionada a abortar um filho que não estava programado e que foi fruto de sexo livre.
Mas a nossa esperança não reside no homem, por mais poderoso e sábio que seja; nosso socorro só pode vir de Deus, como o Filho afirmou em Marcos 10.27: “Jesus, porém, fitando neles o olhar, disse: Para os homens é impossível; contudo, não para Deus, porque para Deus tudo é possível.” Por isso esperamos ansiosos a volta gloriosa de Cristo, quando, em poder e glória virá para julgar toda a carne, como Paulo relatou aos atenienses no Areópago, em Atos 17.31: “porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos.” Este dia maravilhoso não tarda, e Jesus nos mostra em Mateus 24.30, como será: “Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória.” Maranata!
Senhor Deus, nosso Pai, Teu Filho nunca declarou que viver no mundo, em qualquer época, seria fácil. Ao contrário, Ele previu aflições, perseguições e muitas lutas. Sabemos desta forma que as dificuldades, as contrariedades e as angústias que sentimos com a vida nos dias de hoje, são inevitáveis. Mas nós dependemos inteiramente de Ti, Senhor, em tudo e para tudo, e assim clamamos pelo Teu amparo, pela Tua misericórdia, pela Tua graça, dando-nos força, proteção e direção a todos os passos que dermos em nossa caminhada terreal. Em nome e por amor de Jesus, agradecemos e oramos. Amém.
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